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Hollywood desembarca em Cannes com toda a sua artilharia pesada

As grandes produtoras de Hollywood apelam para métodos exagerados de promoção, como o envio de três tanques para desfilar na La Croisette

Tommaso Koch
Arnold Schwarzenegger, Jason Statham e Harrison Ford, em um dos três tanques que desfilaram pela Croisette para apresentar Os Mercenários 3.
Arnold Schwarzenegger, Jason Statham e Harrison Ford, em um dos três tanques que desfilaram pela Croisette para apresentar Os Mercenários 3.YVES HERMAN (REUTERS)

Sim, nós podemos. Obama já avisou, incansavelmente, em sua campanha eleitoral de 2008. E, no sábado, o Festival de Cannes ofereceu uma prova de que os norte-americanos são capazes de obter o que querem. Sim, talvez o lema presidencial foi determinado para as questões mais relevantes que a promoção do filme Os mercenários 3. No entanto, ver o elenco do filme, com destaque para Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Mel Gibson, Jason Statham, Kelsey Grammer, Wesley Snipes e Harrison Ford desfilando pela Croisette a bordo de três tanques soviéticos – um mal dia para Putin – transmite a mesma mensagem: eles podem.

Quem mais, senão Hollywood, poderia levar três tanques de navio do Reino Unido e exibi-los pelas ruas do mais importante festival de cinema do mundo? Para isso, os produtores tiveram que retirar as metralhadoras dos veículos e negociar por vários meses o seu show, segundo a revista The Hollywood Reporter. Mas a invasão dos mercenários – também com o espanhol Antonio Banderas a bordo do segundo tanque – finalmente significou o desembarque norte-americano no festival. “Cannes é espetáculo, por isso trata-se de criar espetáculos”, disse à mesma revista Mark Gill, da empresa de produção de filmes Nu Image/Millenium.

Cannes sempre quis os EUA na sua competição, tanto que é o país que mais Palmas de Ouro ganhou – apesar de que a rendição da cidade inteira aos norte-americanos seja um fenômeno mais recente. A Seção Oficial continua a oferecer a cada ano alguns filmes norte-americanos, mas agora é, sobretudo, fora do Palais onde se nota a potência publicitária de Hollywood.

É possível ver diante dos hotéis os cartazes gigantes de Transformers ou outra superprodução atraindo forçosamente o olhar do pedestre. Há uma enorme quantidade de fãs correndo de um lado para o outro atrás do sonho de ver o seu ídolo – no domingo passou pelo tapete vermelho o ídolo dos adolescentes Robert Pattinson. E isso é comprovado pelas revistas norte-americanas de cinema distribuídas em cada esquina e cujas redações são levadas em peso a Cannes durante o festival.

Mas também foi possível ver no evento o outro lado dos Estados Unidos. O lado do “imperialismo”, como resumiu Tommy Lee Jones sobre uma das temáticas de The homesman, o filme que dirigiu e estrelou e que foi recebido com fortes aplausos após a sua exibição. O seu trabalho já lidera as apostas da Palma de Ouro, ou pelo menos que levará algum prêmio, segundo os críticos. Na sua visita anterior à La Croisette, com Três enterros, o filme dirigido por ele e com o qual participava do concurso ganhou dois prêmios: ator (para ele) e roteiro (Guillermo Arriaga).

O ator, vencedor do Oscar por O fugitivo e protagonista de Onde os Fracos não Têm Vez, JFK, Homens de preto ou No vale das sombras, repete agora o papel duplo de diretor e protagonista. “Como cineasta, eu faço tudo o que me proponho a fazer e como ator escuto atentamente”, disse ele em uma entrevista à imprensa. “Eu tenho as referências de todos os filmes que eu vi, tento me afastar de alguns e aproveitar outros. Dizem que os bons artistas copiam e os grandes roubam. Eu roubo”, continuou ele, surpreendentemente alegre. Porque, como repetem todos que tiveram conversas a sós com ele, seus silêncios e caretas nada têm a ver com o marketing e as risadas de Hollywood.

Disso, Cannes está cheia dia, tarde e noite. Até o ponto que o próprio diretor do festival, Thierry Frémaux, fez questão de subir ao palco e apresentar a première de Como treinar o seu dragão 2, filme de animação que foi a Cannes com monstros alados, estrelas do calibre de Cate Blanchett e uma publicidade difícil de ignorar. Antes da exibição, Fremaux comemorou os 20 anos da Dreamworks (produtora do filme) e contou um momento vivido com Jeffrey Katzenberg, chefe da empresa: “Há 10 anos me disse: ‘Eu quero te mostrar um filme de animação’. Eu respondi: ‘Para Cannes?’. Me disse que sim. Não era algo que costumávamos fazer, mas concordamos em assisti-lo quase por cortesia e amizade. Era Shrek, gostamos do filme a adoramos a ideia de exibi-lo na tela do Grande Teatro Lumière”.

Sob essas premissas, o cinema norte-americano também é protagonista. Porque no mercado de compra e venda de filmes realizado nestes dias em Cannes, os filmes dos EUA são os mais cotados. A lista de filmes em disputa confirma o seu valor. Há os novos filmes de Terrence Malick (ele mesmo mostrou aos compradores quatro minutos do seu novo trabalho, que ainda não foi finalizado a tempo para a Seção Oficial) e de Gus Van Sant; também está em Cannes a estreia de Russel Crowe – que não é norte-americano, mas faz parte da indústria de Hollywood – assim como Matthew McConaughey, George Clooney, James Franco, Amy Adams, Michael Fassbender também estavam promovendo os seus trabalhos.

Alguns deles foram vistos no festival – Clooney apareceu no sábado – e também pelas noites de champanhe. As reportagens já dizem que houve uma festa esplêndida organizada pela equipe do novo Jogos vorazes em uma mansão da cidade. Na entrada, era possível ler: “Abandone toda a dor aquele que por aqui entrar”. Essas palavras são, de uma forma modificada, as palavras que dão as boas vindas ao Inferno de Dante. Embora lá dentro, pelo o que contam aqueles que participaram, pareciam estar mais no paraíso.

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