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Morre Cornelius Gurlitt, o herdeiro do espólio nazista

O alemão possuía o conhecido como Tesouro de Munique, com obras que poderiam proceder das que foram roubadas na II Guerra Mundial

Luis Doncel
Cornelius Gurlitt em Munique, em de 2013.
Cornelius Gurlitt em Munique, em de 2013.Goran Gajanin (contacto)

Cornelius Gurlitt, herdeiro de uma luxuosa coleção de arte em parte espoliada aos judeus, morreu nesta terça-feira em Munique aos 81 anos. Durante mais de 50 anos, este homem viveu uma plácida existência, rodeado em sua casa por alguns dos quadros mais destacados da primeira metade do século XX. Mas nos últimos anos de sua vida obteve um protagonismo que nunca desejou. “Não sou Boris Becker. O que essa gente quer de mim? Eu só quis viver com meus quadros. Por que me fotografam esses jornais que só publicam notícias de gente mundana?”, disse ao semanal Der Spiegel no final de 2013.

O motivo desse interesse do qual tanto se queixava é que uma parte de sua obra procedia dos negócios que seu pai, Hildebrand, fazia com Adolf Hitler. O líder nazista tinha encarregado ao pai de Cornelius a venda de algumas obras que o regime nacional-socialista considerava “degeneradas”. Hildebrand, historiador de arte, diretor de museu e revendedor, lucrou graças ao Holocausto e à perseguição sistemática aos judeus.

A última fase da vida de Cornelius Gurlitt, aquela na qual o seu pesar se tornou famoso, começou em setembro de 2010, a bordo de um trem de Munique a Zurique. A descoberta por parte da polícia de que viajava com uma grande quantidade de notas de dinheiro deu início a uma investigação fiscal. A surpresa maior ocorreu no início de 2012, quando em uma investigação em seu apartamento em Munique de 100 metros quadrados no bairro de Schwabing, os agentes acharam uma fabulosa coleção, com 1.280 obras de arte. Entre muitas outras, ali havia pinturas de Pablo Picasso, Marc Chagall, Henri Matisse, Otto Dix e Max Ernst. A descoberta do tesouro se manteve em segredo por um ano até que a revista Focus publicou a história em 2013.

A polêmica foi perdoada há um mês, quando Gurlitt chegou a um acordo com o Governo federal da Alemanha e da Ilha da Baviera para devolver as obras que tivessem a procedência ilegítima. Para isso, foi estabelecido um comitê de especialistas que terão um ano para selecionar as pinturas e gravuras que terão que ser devolvidas aos herdeiros espoliados.

Depois deste acordo, a morte de Gurlitt, que nunca teve filhos, não terá um efeito direto no destino da coleção. As pinturas e gravuras seguirão no local onde estão guardadas pelo Governo até que se determine quem são seus legítimos donos. O porta-voz de Gurlitt disse que ele, que estava muito debilitado depois de uma complicada cirurgia no coração, decidira nos últimos dias voltar para a sua casa de Munique, onde recebia os cuidados de um médico e de uma enfermeira. A responsável governamental de Cultura, Monika Grütters, valorizou que, ao aceitar esta solução, Gurlitt “assumia a sua responsabilidade moral”.

“Poderiam ter esperado [para confiscar as obras de arte] até que eu tivesse morrido”, dizia Gurlitt no final do ano passado na entrevista que concedeu ao Der Spiegel.

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